2.5.10

CARTA Á MINHA MÃE

Olá MÃE,
é o Virgílio que te está a escrever! Eu sei que já não consegues ler, que passas a maior parte do teu tempo nessa cama do lar! Eu sei que continuas linda como eras e nem as rugas se deram ao trabalho de invadir o teu rosto, nem os cabelos branquearam demasiado, ficando apenas grisalhos, da cor da prata! Eu sei quanto sofreste por mim e pelos meus irmãos, porque a vida não era fácil e a fortuna era inexistente! Ah, ás vezes também tinhas as tuas exaltações e não conseguias dominar-te. Levei algumas, porque no mundo não há santos! Não quer dizer que tinhas sempre razão, mas na maior parte das vezes tiveste! Mas ao fim ao cabo, acho que o saldo foi positivo e que fui eu que mais fiquei a ganhar com isso!
Quando te mostrei o primeiro verso, choraste e abraçaste-me, antes de um grande beijo. Quando te falei da primeira namorada riste com vontade e ficaste feliz! Quando fui trabalhar pela primeira vez, com 14 anos, sofreste imenso porque querias outra coisa para mim! Não me esqueço como ficaste zangada quando eu comprei a primeira motorizada... temias que fosse a minha morte! Quando foi da segunda, preferias que tirasse a carta de condução! Depois fiz-te a vontade e até comprei um carro, mas não ficaste satisfeita porque era em segunda mão! Os anos iam passando e lembro as duas pérolas a brilhar no canto do olho quando te disse que tinha decidido ir para a Universidade.
Hoje olho-te na cama do lar e não sei se sofres, mas sofro eu! Não sei me conheces, mas conheço-te eu! Não sei se me ouves, mas oiço-te eu! E nessa viagem que faço todos os dias levo sempre a esperança de te ver a andar pelo corredor, desembaraçada como era teu hábito, não se furtando a qualquer esforço por mais incontornável que ele parecesse! Nunca davas razão ao suor para te travar a impetuosidade e conseguias arranjar sempre alguma coisa para estar ocupada! Para ti o dia começava antes do sol nascer e acabava pela madrugada! Hoje estás praticamente imóvel, mas continuas a mexer imenso no meu coração, porque amor de mãe não se esquece.
A carta vai longa mas ainda te quero pedir perdão pelas minhas travessuras e agradecer o que fizeste para que seja quem sou actualmente e de quem te orgulharias certamente se tivesses em teu perfeito espírito. Acima de tudo nunca esqueci que me dizias que os homens não se medem aos palmos e que perante uma parede de 2 metros temos de ter 3 para a ultrapassar!
Hoje é Dia da Mãe, e por muitas que haja tu és única!
OBRIGADO MINHA QUERIDA MÃE, com um enorme beijo deste filho que te AMA .

1 comentário:

Anónimo disse...

Fiquei emocionada, bastante mesmo.
Parabéns.
Beijinhos